5° Evento Cultural Quilombola
Os dias 18 e 19 de agosto de 2018 foram repletos de confraternização, reflexão, resistência e organização comunitária das comunidades quilombolas do Quipea.
O 5º Evento Cultural Quilombola aconteceu nas comunidades quilombolas de Aleluia, Batatal, Cambucá e Conceição do Imbé, localizadas em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro.
O Evento contou com cerca de 1.200 participantes, que, ao longo destes dois dias, puderam participar de uma mesa redonda, oficinas, exposições e manifestações culturais que ressaltaram a identidade e a memória do povo quilombola.
Para que acontecessem todas essas atividades, foi composto o Departamento Cultural do 5º Evento Cultural, que contou com comunitários quilombolas representantes das comunidades do Quipea. Junto a Shell e a equipe executora do Projeto, o Departamento Cultural elaborou e organizou cada uma das atividades do Evento. Foram quatro meses de muita coletividade, que culminou neste grande encontro quilombola, símbolo da força das comunidades do Quipea.
“Liberdade a conquistar: diretos na saúde e educação pela agricultura familiar”
Este foi o tema do 5º Evento, que chamou a atenção para a pluralidade social, étnica e cultural que há na agricultura produzida pelas populações afrodescendentes.
Primeiramente, o conceito de agricultura familiar destaca a prática agrícola feita em família, ou seja, uma agricultura praticada a partir de uma relação muito particular de pais e filhos com a terra e a plantação.
Essa relação é ainda mais especial quando se trata da agricultura familiar quilombola, que carrega consigo a memória de famílias afrodescendente e um jeito histórico de lidar com o território, o trabalho rural e a moradia.
E foram por esses motivos que o debate sobre o tema foi de fundamental importância para as comunidades quilombolas.
O tema “Liberdade a conquistar: diretos na saúde e educação pela agricultura familiar” chamou a atenção para a liberdade ainda a conquistar, a partir da conquista de dois os direitos: a saúde e a educação quilombola.
O debate sobre a saúde, sob a ótica da agricultura familiar quilombola, se explica por conta da existência do racismo e das desigualdades socioambientais, que ocasiona aos quilombolas problemas relacionados ao acesso aos serviços de saúde. O debate sobre a educação também se explica pela existência do racismo e das desigualdades socioambientais e trata da falta de acesso da população quilombola aos espaços de ensino e de produção do saber.
Tanto o debate sobre a saúde, quanto o debate sobre a educação quilombola enfatizaram o direito garantidor de um modo de vida formador da tradição afro-brasileira. E é nesse sentido que ambos os debates trabalharam a ideia de ancestralidade e de sustentabilidade.
As práticas agrícolas quilombolas provém de ensinamentos particulares, passados de gerações para gerações. Hoje, são essas práticas que geram uma agricultura sustentável e uma alimentação saudável. Sendo assim, manter o ensinamento da agricultura familiar quilombola é uma maneira de manter a sustentabilidade ambiental e a boa saúde.
Tudo isso foi debatido intensamente no primeiro dia do encontro, quando aconteceu a mesa redonda. Palestrantes da esfera pública, de instituições de pesquisa e de movimentos sociais apresentaram as políticas públicas – nacional, estadual e municipal – voltadas para a agricultura familiar dando ênfase aos limites e aos potenciais destas políticas no alcance do direito a educação e direito à saúde quilombola. A mesa redonda também contou com uma homenagem aos griôs das comunidades sede do Evento, simbolizando o respeito a ancestralidade.
Um encontro da cultura quilombola
O segundo dia do Evento foi uma grande festa dedicada às manifestações culturais das 21 comunidades quilombolas do Quipea. Vale dizer que a preocupação socioambiental esteve presente nestes momentos, assim como esteve presente nos espaços e nos itens entregues aos participantes. O Evento contou com a separação do lixo produzido, feita com a disposição de lixeiras específicas para cada tipo de lixo. Também foram utilizadas canecas, o que evitou a produção de lixo pelo uso excessivo de copos descartáveis. O público ainda recebeu mudas de plantas nativas da Mata Atlântica, para contribuir na restauração deste bioma tão ameaçado.
Os debates permearam todas as atividades realizadas. As oficinas de vassouras, de turbante, de trançados e de beleza negra e a exposição dos artesanatos produzidos pelos quilombos demostraram a prática e a estética quilombola, isso não só no sentido de uma ancestralidade viva, mas também no sentido da atualidade jovem.
Já as diversas manifestações culturais que ocorreram ao longo do dia, demostraram a diversidade cultural existente no conjunto dos quilombos participantes do Quipea. O jongo, a quadrilha, a capoeira, a ciranda, o batizado de bonecas, as diversas músicas e danças expuseram com muita alegria as linguagens lúdicas componentes desta diversidade.
Houve ainda as exposições trazidas por instituições parceiras do Evento. O instituto Dagaz expôs fotos do seu livro sobre a culinária quilombola, intitulado “A cozinha dos Quilombos”. Já guias e gestores do Parque do Desengano, parque Estadual dirigido pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e localizado na área limítrofe as comunidades sede do Evento, expuseram exemplares de bichos e plantas existentes na fauna e flora local, que é da Mata Atlântica.
O ponto alto do dia foi a homenagem feita aos agricultores familiares, quando foi passado um vídeo com fotos das famílias agricultoras de todas as comunidades quilombolas do Quipea, destacando suas práticas agrícolas. Nesse momento, os representantes destas famílias foram ao palco e receberam pratos decorativos com suas fotos estampadas, homenagem que significou o agradecimento de todos do Quipea à sustentabilidade e ancestralidade de seus trabalhos.