VI EVENTO CULTURAL
“Identidade Quilombola: minha essência, nossa história” foi o tema do 6º Evento Cultural do Quipea, um momento de troca e importantes discussões para o povo quilombola.
A celebração aconteceu nos dias 26 e 27 de outubro de 2019 na comunidade quilombola de Graúna, localizada no município de Itapemirim-ES. Participaram do evento, aproximadamente, 1200 (um mil e duzentas) pessoas, representando as 21 (vinte e uma) comunidades quilombolas participantes do Quipea, que prestigiaram com muito entusiasmo as atividades realizadas.
O sucesso do evento foi resultado do trabalho e dedicação do Departamento Cultural, composto por representantes da Comissão Articuladora do Quipea, além da participação do presidente da Associação Quilombola de Graúna, equipe executora do projeto e Shell. Foram quatro meses de construção coletiva que culminou em uma grande festa, rica em discussões sobre a identidade quilombola e o fortalecimento das comunidades.
O primeiro dia foi marcado pela realização da mesa redonda, importante momento de discussões baseadas no tema da celebração “Identidade quilombola”, onde foram abordadas questões como educação, agricultura e território quilombola. O debate proporcionou a reflexão sobre as políticas públicas quilombolas no município de Itapemirim, o fortalecimento das comunidades, além do processo tão importante de autorreconhecimento.
Os debates contaram com a participação de diferentes instituições do âmbito municipal, estadual e nacional, tais como: Secretarias Municipais de Educação e de Cultural de Itapemirim; Gerência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado do Espírito Santo; Coordenação Estadual Quilombola do Espírito Santo (Zacimba Gaba); Coletivo de Mulheres Negras do Espírito Santo e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Também participaram dos debates representantes da Shell, Ibama, lideranças da comunidade de Graúna e uma pesquisadora da área de Educação e Questões Raciais e intelectual Quilombola.
“Nenhum de nós que nasceu no quilombo, que é negro, é descendente de escravo, mas de africanos livres, descendentes
de reis e rainhas em seus países.”
Olindina Serafim | Pesquisadora da área de educação e questão racial
No segundo dia, ocorreram as apresentações de manifestações culturais, exposições de artesanato e exposições da culinária das comunidades quilombolas presentes no evento.
Ao longo do dia, também foram realizadas quatro oficinas: Tranças, Turbante, Maquiagem para pele Negra e Confecção de esteira de taboa. Nos espaços das oficinas foram instalados banners contendo a história e a importância de cada prática para a população negra no Brasil e na África.
Além destas apresentações, foi realizada uma homenagem às mulheres quilombolas de cada comunidade. Cada comunidade escolheu uma mulher que representasse a força da mulher quilombola e fosse exemplo de luta e referência para toda a comunidade. Nesse momento, cada mulher foi convidada ao palco e recebeu uma placa de homenagem.
O 6º Evento Cultural conseguiu aprofundar as discussões sobre o fortalecimento da cultura, da ancestralidade e da identidade, atendendo aos objetivos do Quipea e anseios dos quilombolas. Demonstrou, mais uma vez, como é um importante momento de troca e encontro entre essas comunidades, indicando o potencial desta atividade para o processo de organização comunitária, a busca de melhorias e resgate de manifestações culturais para as comunidades quilombolas e, principalmente, para a comunidade sede do evento, que se envolveu e planejou sua realização.
Destacamos algumas conquistas da Comunidade de Quilombola de Graúna após a realização do 6º Evento Cultural:
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Maior auto reconhecimento e a afirmação de ser Quilombola por parte dos moradores de Graúna;
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Maior reconhecimento dos órgãos públicos de Graúna como comunidade quilombola;
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Retomada de atividades voltadas à cultura africana, como dança de Maculelê na escola da comunidade;
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Oferta de merenda escolar quilombola para a Escola Estadual de Graúna;
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Oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) dentro da comunidade quilombola de Graúna;
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A Creche da comunidade passou a ser Creche Quilombola e no evento do 20 de novembro foi prometido pela prefeitura uma ampliação da creche;
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O Prefeito do município de Itapemirim sancionou uma lei determinando que as ações comemorativas relacionadas ao 20 de novembro deverão ser realizadas na comunidade quilombola de Graúna;
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Três mulheres quilombolas, formadas em pedagogia, estão trabalhando na creche;
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O presidente da Associação de Moradores de Graúna recebeu um convite para participar de uma reunião da Assembleia Legislativa em Vitória e recebeu uma homenagem como líder quilombola;
A comunidade passou a se organizar mais por causas coletivas,apropriando-se da identidade quilombola, como, por exemplo, ao fazer - solicitação da alteração do nome da escola para o nome de algum morador com experiência na comunidade.
Fortalecimento do espírito empreendedor, como foi o caso do morador da comunidade de Bacurau, Mateus Silva, que participou da oficina de esteira de taboa, e passou a produzir esteiras e comercializá-las.
Saiba mais
O Evento Cultural é a maior atividade do Quipea, sendo seu planejamento caracterizado por momentos em que os comunitários colocam em prática seu poder de gestão e auto-organização. O planejamento e as atividades pedagógicas para o Evento Cultural são realizados de modo participativo, por meio do Departamento Cultural, que foi eleito na 19ª Reunião Ordinária da Comissão Articuladora das Comunidades Quilombolas do Quipea e que se reuniu quinzenalmente, desde o mês de junho para elencar os temas prioritários do Evento Cultural, bem como suas atividades e programação.
O Evento Cultural é uma atividade do Plano de Trabalho - Fase 3 (Rev.2) do projeto Quipea e visa fortalecer a cultura e a ancestralidade, por meio da articulação e integração das comunidades quilombolas do Quipea.
Texto elaborado pelo GT de Comunicação Popular do Quipea.
Uma herança que está ligada à cabeça, às mãos e ao coração. A um modo de vida único, que alguém lá atrás resistiu para que essa forma de viver existisse até hoje, mesmo em um território em constantes transformações.
O quilombola carrega em si uma fé admirável, renovada por meio das conversas com os griôs e fortalecida através dos saberes locais. Desta forma, ser quilombola é ter a riqueza espiritual das rezadeiras, as mãos sensíveis das parteiras, o bom chá com ervas colhidas no quintal, a celebração de uma roda de jongo, o saber do plantar e do colher.
A ancestralidade africana representa as raízes do povo quilombola, que atualmente vem lutando bravamente para manter seus costumes e tradições.
Texto criado de forma participativa pelo GT de comunicação popular composto por apoiadores locais
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